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Duas Novelas: Novela da Ciganinha e Novela do Amante Generoso

Miguel de Cervantes
 
"... ficou em dúvida se as dissera com paixão ou cortesia, pois a infernal doença do ciúme é tão sutil e de tal maneira que se cola à poeira em réstias de sol, e dos grãos que tocam o objeto amado se aflige e se desespera o amante."
 


Olá Pessoal, tudo bem?

A postagem de hoje é dentro daquela minha proposta de comentar minhas leituras mais curtas, contos e novelas. E hoje vou comentar duas novelas que estão no livro: Novelas Exemplares do Miguel de Cervantes. Decidi que esse ano eu leria pelo menos uma novela por mês desse livro, sendo assim, até o final do ano terei finalizado a leitura.

Do Cervantes já li Dom Quixote que estou devendo um comentário aqui no blog, a primeira edição das Novelas Exemplares foi publicada em 1613 entre a publicação dos dois volumes do Quixote, apesar de, não haver uma certeza de quando as novelas foram escritas e há citação as novelas na obra prima do autor. As novelas em si possuem temas diferentes que foram desenvolvidos e são uma novidade para época, sendo o primeiro livro com esse tipo de narrativa escrito em espanhol, em uma época em que a narrativa em prosa era considerada menor quando comparada ao poema épico ou ao teatro.

Para quem já leu Dom Quixote deve se lembrar das histórias secundárias que surgem ao longo da narrativa, essas histórias são muito similares ao que encontramos nessas novelas.

E hoje quero comentar um pouco mais sobre duas delas: A novela da Ciganinha e a A novela do amante generoso.

A novela da Ciganinha: Nessa novela somos apresentados a Ciganinha Preciosa que a todos impressiona com sua beleza e seu bom juízo, de tão encantadora que se mostra ela consegue admiradores por onde passa, um desses admiradores é afetado de forma maior pelo sentimento que a ciganinha desperta e Dom Juan de Cárcamo, um verdadeiro cavalheiro aceita se tornar Andrés, o cigano, apenas para provar a sua ciganinha seus sentimentos.

Mas é claro que a história desses dois sofrerá vários reveses, fazendo que no final se encontrem em uma situação por demais difícil e complexa, sendo que, a solução que se revela é por demais conveniente, mas mostra que "plot twist" não é uma invenção contemporânea.

Algumas coisas chamaram minha atenção na leitura dessa novela: primeiro a forma estereotipada e extremamente preconceituosa que os ciganos são retratados, todos sendo ladrões e enganadores, e muito orgulhosos dessa condição. O que na época era uma forma aceitável de retratar uma outra etnia. O outro ponto vou comentar junto com a próxima novela.

"Parece que os ciganos e as ciganas vieram ao mundo apenas para ser ladrões: nascem de pais ladrões, criam-se com ladrões, estudam para ladrões e, enfim, acabam ladrões de cima a baixo, de dia e de noite, e a vontade de furtar e o próprio furto são como que traços inseparáveis neles, que  apenas a morte elimina."
 
 
O amante generoso: Nessa novela vemos ser contada a história de Ricardo um escravo cristão em terras dominadas pelos mulçumanos. Lembrando que Cervantes viveu em uma Espanha ainda sob a influencia vivida das invasões mouras ao país. Ricardo inicia a novela contando a história de seu infortúnio a um amigo também escravo nessas terras. E o motivo de seus infortúnios Leonisa, a moça mais formosa que os olhos do pobre homem já conheceram. Devido a uma situação muito louca e confusa, Ricardo acaba por ciúme e sem querer facilitando que ele e a própria Leonisa acabe na mão dos turcos e vendidos como escravos.
 
Há uma serie de coincidências, encontros e desencontros ao longo do livro que leva ao desfecho final, em um dado momento, eu fiquei pensando como ele iria desfazer esse imbróglio todo e até que a solução foi interessante.
 
Porém mais uma vez, vemos as etnias sendo tratadas com desdém, tanto mulçumanos como judeus, são tratados com preconceito, como pessoas que não possuem dignidade e/ou caráter, sempre preocupados com o lucro e a satisfação do próprio prazer e necessidades.
 
Outra coisa que gostaria de ressaltar é que em ambas as novelas a mulher é retratada como uma espécie de troféu, o que as faz dignas de amor e das mais sinceras demonstrações de abnegação e dedicação são sua beleza e honestidade (no sentido de virgindade sexual). Preciosa, ainda é apresentada como sensata e tem suas características um pouco mais exploradas, porém Leonisa é a moça bonita que desperta o amor (na verdade, o desejo) a todos, mas que pouco se manifesta e da qual nada sabemos além da sua extraordinária beleza.
 
Eu tenho perfeita consciência de que estou lendo um livro do século XVII e que essas representações de minorias étnicas, preconceitos religiosos e da mulher não eram só aceitáveis como estimuladas, e através da minhas observações não pretendo desmerecer a importância ou genialidade do escritor, mas acho válido chamar a atenção dos estereótipos que predominaram na literatura por muito tempo, para que o mesmo não continue se repetindo na literatura atual.
 
De maneira geral, ler Miguel de Cervantes é sempre uma delicia, o mesmo possui um humor peculiar, até mesmo quando se manifesta através da poesia e das falas pomposas de seus personagens.
 
Logo menos volto para comentar outras novelas desse livro.
 
E vocês gostam de Cervantes? Conhecem suas novelas?
 
Até a próxima,
 
Dani Moraes

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